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terça-feira, 10 de maio de 2011

A Galinha - Clarice Lispector


 Mesmo que você não seja versado a literatura, conheça este texto de Clarice Lispector através de uma bem bem humorada interpretação em vídeo.

Vídeo feito pelos alunos do Colégio Marista Roque - Cachoeira do Sul_RS para representar um conto de Clarice Lispector, A galinha, do livro Laços de Família

Atores:
Felipe Costa === Mulher
Gustavo Iser === Galinha
Igor Mallmann === Camera e Edição
Silvio Schuster === Homem
Vitor Silveira === Filha
Vinícius Wollmann === Nada

Segue o texto:

Uma Galinha
Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode­ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “
Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

terça-feira, 8 de março de 2011

Como surgiu o Dia Internacional da Mulher?

dia-internacional-da-mulher

Durante o Congresso Internacional de Mulheres, realizado em 1919, na cidade de Copenhague, Dinamarca, essa data foi escolhida e oficializada como o dia ideal para o Dia Internacional da Mulher em homenagem ao assassínio de 129 mulheres, que foram queimadas em resposta a uma greve realizada na fábrica têxtil Cotton, em Nova York, em 8 de março de 1857.

O motivo da greve era um protesto contra uma jornada diária de 16 horas de trabalho, aliada a baixos salários. Como resposta à manifestação, os patrões ordenaram que fosse ateado fogo no prédio onde essas mulheres se encontravam.

O Dia Intenacional das Mulheres surgiu para homenagear esse tipo de mulher, que luta pelos seus direitos, que se dá valor, que sabe da sua importância.
Infelizmente não é isso que vemos hoje em dia, cada vez mais as mulheres servem  somente como objeto, só se importam com aparência e a cabeça esta completamente vazia, agir com vulgaridade, ficar com quantos quiser tudo é liberado pq as mulheres tem os mesmos direitos que os homens. Ao invés de consertarmos o comportamento dos homens estamos querendo ficar iguais.

Mulheres vamos nos valorizar, vamos ser mulheres de verdade!

Provérbios 14:1- a palavra do Senhor diz: Toda mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derruba com as suas próprias mãos.

O temor ao Senhor é o princípio da sabedoria.

Não se apegue à vaidade, e aos costumes mundanos, que não se envolva em contenda, e não ande na loucura das paixões infames.

Mulherão

A Mulher de Verdade

Se pedirmos para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80, siliconada, sorriso colgate.

Poderíamos enumerar algumas poucas, dentro deste conceito: Vera Fischer, Malus, Leticias, Adrianes, Lumas e Brunas.

Agora pergunte uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que existe uma em cada esquina ou até mesmo dentro de sua casa.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e família morta de fome.

Mulherão é aquela que vai de madrugada para matrícula na escola.

Mulherão é aquela aposentada que passa horas em pé em uma fila para buscar uma pensão de 150 reais.

Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a Sexta-feira, e uma família todos os dias da semana.

Mulherão é quem volta do supermercado ou da feira segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e fazendo malabarismo com o orçamento.

Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquila, que faz dieta, que malha, que usa salto-alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se produz mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.

Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva filhos na natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para a cama e conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.

Mulherão é aquela mãe que não dorme enquanto seu filho não chega, e que de manhã bem cedo esquenta o leite e faz o café.

Mulherão é quem leciona, com amor, em troca de um salário mínimo.

Mulherão é quem faz serviços voluntários mesmo tendo pouco tempo de sobra.

Mulherão é quem colhe uva, é quem apanha café na roça, é quem opera pacientes, é quem lava roupa fora, é quem põe a mesa, é quem cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.

Mulherão é quem cria filhos sozinha, é quem dá expediente, é quem enfrenta a menopausa, TPM e menstruação.

Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.

Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres que podem ser consideradas bonitas, mas mulherão, a mulher de verdade é aquela que mata um leão por dia.

Parabéns a todas as mulheres de verdade!!

Aline

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ah! Os relógios

surrealismo o persistencia da memoria

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...


Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.


Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


Mario Quintana - A Cor do Invisível

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